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Rota do vinho da Alsácia: vinícolas, trajetos e dicas

Todos os meses do ano são lindos: na primavera, o verde desabrocha; no verão, as uvas estão no auge; no outono, as folhas ficam amarelinhas e a paisagem bem acolhedora; no inverno, as montanhas ao redor, cheias de neve, dão um toque especial.

A cada ano fico mais apaixonada por vinho e, quanto mais vivo entre França, Espanha e Itália, mais aprendo a apreciá-lo. O que ampliou mesmo essa paixão foi morar por um ano na Alsácia, internacionalmente reconhecida pela qualidade dos vinhos brancos. Esse líquido quase dourado e muito perfumado pode então ser curtido na rota do vinho da Alsácia, formada por uma estrada estreita (uma faixa vai e outra volta) que conecta 70 villages produtoras desse estado da França.

Todos os meses do ano são lindos: na primavera, o verde desabrocha, já no verão as uvas estão no auge; no outono, as folhas ficam amarelinhas e a paisagem bem acolhedora. No inverno, contudo, as montanhas ao redor, cheias de neve, dão um toque especial. Na época do Natal, a decoração e os mercados concedem então um astral especial aos cenários.

Os vinhedos no início da primavera
Os vinhedos no início da primavera

Além da qualidade do vinho, esse caminho oferece uma série de cidades lindíssimas, de conto de fadas! Não é então à toa que Colmar, por exemplo, inspirou o cenário do filme A Bela e a Fera. O que se vê por aqui é semelhante com a rota romântica da Alemanha, mas com uma aura diferente, com mais cores e flores nas casas, além de uma gastronomia e um sotaque que só encontrará na Alsácia!

Quais são os tipos de vinho da Alsácia?

Cerca de 70% dos vinhos produzidos na região são brancos. Entre as principais uvas estão as chamadas de castas nobres: Riesling, Pinot Gris, Pinot Blanc, Gewuztraminer, Silvaner e Muscat. São mais de 51 denominacações de “Grands Crus”, entre elas, como Altenberg de Berhgheim, Sonnenglanz, Schlossberg, Furstentum ou Frankstein. Se você é fã de espumantes, 10% da produção é do chamado Cremant d’Alsace, elaborado com mistura de uvas colhidas cedo para pronunciar acidez.

A vista no final da trilha do olho da bruxa de Thann no início da primavera
A vista no final da trilha do olho da bruxa de Thann no início da primavera

É importante, entretanto, destacar que a designação dos vinhos é, em grande parte, feita em função das castas e não da origem geográfica, salvo algumas exceções. O mais delicioso é que, por ter a maior diversidade geológica da França e séculos de técnica, encontramos, entre um produtor e outro, vinhos de estilos e personalidade bastante diferentes. Um dos fatores que contribui para a qualidade dessas uvas é o solo, pois nele está argila, areia, calcário, granito e greda, provenientes do desmoronamento de partes das montanhas de milhões de anos atrás.

Destaque: os brancos da Alsácia

Nas últimas décadas, a demanda e a produção de vinho tinto cresceu em todo mundo, por isso, os brancos ficaram um pouco esquecidos. Eu mesmo nunca dei tanta atenção a eles quanto mereciam. Mas o fato é que esse é um universo que, quando mergulhamos fundo, nos apaixonamos, em especial, se for aprofundando conhecimento com os vinhos excelentes da Alsácia.

Riquewihr iluminada na noite em que jantamos no Au Trotthus
Riquewihr iluminada na noite em que jantamos no restaurante Au Trotthus

Os brancos locais são, geralmente, encorpados e concentrados. Encontramos bastante os de vendange tardive (colheita tardia), secos ou ligeiramente doces e, também, vemos os de sélection de grains nobles, de uvas concentradas e maduras. Raramente você verá o uso de madeiras marcantes, pois os produtores buscam manter o sabor puro da fruta. No rótulo, verá a uva ou – se utilizam uma mistura de várias cepas – o nome  Edelzwicker no rótulo.

Riesling

Para detalhar as uvas, vale destacar a Riesling, que tem mais mais corpo e profundidade e é, portanto, a minha favorita, bem como muito apreciada pelos locais, que recomendam degustá-la com mariscos, ostras ou alguns queijos. Ela dá origem a vinhos muito elegantes, com aromas delicados de frutas, além de notas florais e minerais. Além disso, é a uva favorita dos sommeliers! Isso porque gera menor impacto ao sabor da comida.

Kaysersberg e o charmoso rio que atravessa a cidade
Kaysersberg e o charmoso rio que atravessa a cidade

Moscatel

O Muscat d’Alsace, por ser mais simples e frutado, tem menos tensão e acidez. Diferente do que acontece com as castas da família da Muscat no sul da França, cujos vinhos são doces, esse é seco.

Gerzwustraminer e Sylvaner

As aromáticas Gerzwustraminer estão no segundo lugar das minhas favoritas da região. Elas trazem vinhos de notas florais, de frutas e e especiarias e são bastante redondos. Com aspecto dourado, são bastante apreciados com pratos asiáticos, como os tailandeses, além de carne de porco e pato. Em terceiro lugar dos meus queridinhos regionais está a Sylvaner, que gera vinhos leves e refrescantes, com aromas agradáveis, frutados e discretos.

A delicadeza das flores, casas e detalhes de Riquewihr
A delicadeza das flores, casas e detalhes de Riquewihr

Pinot Gris

Outra uva que encontrará é o Pinot Gris, que traz nuances defumadas e tostadas. Até então eu nunca tinha degustado. É uva cinzenta meio azulada que oferece vinhos mais encorpados, macios e com menos aromas, o que o torna bom para acompanhar a comida.

Qual é a história da Alsácia e dessa rota do vinho?

A cultura do vinho é uma realidade local por séculos. A localização, no Vale do Reno, não era só importante por prover a terra apropriada pelo plantio, mas também para distribuir a produção. Pela Alsácia passavam diversas rotas, entre elas a que levava produtos diversos para o Norte. Esses trajetos davam aos condes, como os de Ferrete, muito dinheiro, pois eles cobravam pela passagem em suas terras. Não por acaso Louis XIV invadiu territórios deles e, como sinal de seu êxito, mandou derrubar o castelo de Thann.

As ruínas do castelo de Thann, conhecido hoje como o Olho da Bruxa
As ruínas do castelo de Thann, conhecido hoje como o Olho da Bruxa

Como comentei em outros textos, de diversas batalhas entre alemães e franceses, a Alsácia passou de mãos em mãos, ganhando marcas específicas da região, inclusive na arquitetura. Essas marcas ficaram então fortemente preservadas na gastronomia, na língua e na arquitetura. O vinho também é um desses elementos por isso que essa rota preserva grandes surpresas e belezas tanto do ponto de vista arquitetônico, com casas medievais ou renascentistas, quanto dos sabores.

Mas onde entra a história do vinho?

De épocas anteriores ao período romano, passando pela Idade Média, quando os vinhos da Alsácia eram já vendidos no Norte da Europa, e no Renascimento, época que austríacos e suíços eram também apreciadores, as técnicas foram sendo aperfeiçoadas. Hoje, mais de metade da produção é exportada para Alemanha, Inglaterra, Escandinávia, SuíçaItália, Estados Unidos e Canadá. A outra parcela é consumida na França mesmo e na própria Alsácia – onde, segundo uma amiga aqui de Mulhouse, beber é um lazer tão importante quanto na região Bretanha, famosa pela cidra e pelos crepes.

As ruas de Ribeauvillé
As ruas de Ribeauvillé

No século XX, a Alsácia foi marcada pela I e a II Guerra Mundial. Foi por meio dela que os alemães entraram no território francês, basta conferir no mapa. Muitas vinícolas foram então destruídas pelos bombardeios e pelas invasões das tropas.

Dizem, inclusive, que a safra de 1938 foi toda consumida pelos soldados e que muitas famílias de produtores foram presas dentro das próprias terras. Após as guerras, essas casas tiveram de ser reconstruídas e seguiram produzindo excelentes vinhos, superando os impactos das batalhas no território. Esse conhecimento segue então, geração a geração, por séculos, sendo transmitido.

Natal até nos pequenos detalhes de Colmar
No Natal, a decoração vai até os pequenos detalhes em Colmar

Quando fazer a rota do vinho da Alsácia?

Entre a segunda quinzena de setembro e a primeira de outubro, é o período de colheita. É quando as videiras estão mais bonitas e cheias e algumas casas, por estarem em período intenso, podem não receber visitas. Outras, como a Phillippe Blanck, ficam fechadas da metade de abril até a metade de novembro, pelo foco tanto na colheita e quanto na produção.

Como são as visitas às vinícolas e as degustações na Alsácia?

Na rota do vinho da Alsácia temos não só visitas e degustações, mas também passeios guiados nos vinhedos, piqueniques e cursos. Cada local oferece então diferentes formas de interações com suas magníficas garrafas.

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Paul Schneider em Eguisheim

Mas, independente da época, o ideal é ligar antes e tentar agendar uma degustação. É o que eu recomendo para qualquer viagem europeia para uma rota do vinho, pois sentimos essa necessidade também em Rioja. Além disso, aproveite também esse momento para agendar os restaurantes, que são pequenos e concorridos.

Quais vinícolas devo visitar na Alsácia?

Propriedades familares como Hugel, Dopff, Gustave Lorentz, Willm são bem tradicionais e oferecem visitas e ótimas degustações. Há também os vinotecas que disponibilizam diversas opções e é possível adquirir boas garrafas. Abaixo, ao explicar todo o trajeto, vou destacar alguns produtores interessantes para você conhecer.

Detalhes charmosos de Eguisheim
Detalhes charmosos de Eguisheim

Que trajeto devo fazer na rota do vinho da Alsácia?

Você encontrará vários trajetos no site Route des Vins d’Alsace. Eles podem ser feitos de carro ou de bicicleta, mas eu não recomendo fazer excursões pelo elevado custo e correria. Esse é um percurso para curtir! Se está pensando em trem, essa não seria uma opção tão boa pelas principais villages produtoras não serem servidas por esse meio de transporte, que chega só a Colmar, Obernai e Thann. Explico essa característica num post só sobre Alsácia de trem!

A rota do vinho da Alsácia começa na cidade de Thann, a alguns quilômetros da Suíça, pertinho de Basel e da francesa Mulhouse. É nessa cidade em que está um museu do vinho, além de inúmeras trilhas nas montanhas ou entre vinhedos. De lá até o ponto final são mais de 100 quilômetros, 70 cidades e inúmeros produtores de vinho! Se quer saber como chegar à região, confira então nosso post sobre como ir à Alsácia.

Petit Venize de Colmar
Petit Venize de Colmar

Onde se hospedar na Alsácia

Essa é uma dúvida que recebemos de muitos leitores! Por isso, queremos ajudar vocês e com o post com várias dicas de hospedagem para organizar a viagem.

Le Laterale Residences. Foto: Booking
Le Laterale Residences. Foto: Booking

A rota do vinho da Alsácia ponto a ponto

De Thann a rota passa por Guebwiller, Rouffach, Husseren-les-chateaux e Eguisheim, que é uma cidade belíssima e uma das que mais gosto. Eguisheim é um ótimo local para parar, curtir bons restaurantes e a arquitetura típica da região. É um destino para quem quer fazer degustações, pois existem boas opções como o produtor centenário Wolfberger, o Domaine Bruno Sorg (que realiza cultivo sustentável de uvas) e a Maison Emile Beyer.

Saindo de Eguisheim, a rota passa por Colmar, a mais famosa desse trajeto. A cidade é linda e um destino obrigatório, mas não será o endereço das melhores degustações.

Os canais de Strasbourg
Os canais de Strasbourg

Duas cidades imperdíveis: Kaysersberg e Riquewihr

De Colmar, a graciosa Kaysersberg é então outro ponto importantíssimo pela beleza. É um ótimo lugar para comer ou comprar produtos típicos.

O próximo ponto é Riquewihr, que é a minha favorita. Lá estão bons winstrubs (bares de vinhos), restaurantes Michelin incríveis (confira nosso post sobre o jantar que tivemos no Au Trotthus) e uma arquitetura deliciosa. Também poderá visitar a Hugel et Fils, um dos maiores produtores da Alsácia, fundado em 1639, e o Domaine Dopff au Moulin, focado nos espumantes. Acho Riquewhir perfeita para pegar um hotel charmoso e passar uma noite romântica!

Sobremesa do Au Trotthus
Sobremesa do Au Trotthus em Riquewihr

Ribeauvillé: onde param muitas excursõess

Pertinho estará Ribeauvillé, mas não perca seu tempo com ela! Isso porque lá encontrará ônibus de turismo, muvuca e a cidade não será tão charmosa como Riquewhir, Eguisheim e Kaysersberg! A zona compreendida entre a minha queria Riquewhir e a ultra turística Ribeauvillé, contudo, é uma das mais importantes aglomerações vinícolas da Alsácia e onde encontramos, por exemplo, o Domaine Trimbach, um grande exportador.

Onde os moradores da região vão

Você poderá então passar em Bergheim ou Kintzheim, onde produtores artesanais podem ser visitados. É nessas cidades que quem mora na região vai para fazer degustação. Dica de local, hein? Entre eles podemos mencionar Domaine Paul Blanck, em Kientzheim, um dos maiores produtores da região, e a Maison Marcel Deiss.

Eguisheim, Alsácia
Eguisheim, Alsácia

Trecho final até Strasbourg

Depois a estrada segue mais rumo ao norte, passando por Dambach, Barr, Obernai (fofa e famosinha também) e Molsheim até passar por Strasbourg, que você sem dúvida precisará conhecer, mas sem foco no vinho. Por fim, o último local é Marlenheim. Lógico que é possível considerar o sentido oposto: que Marlenheim é o início e Thann o final. Ou seja, tudo depende de onde estará mais perto de você!

Importante: pontos obrigatórios da rota do vinho da Alsácia

Acho Eguisheim, Riquewhir, Kaysersberg, Colmar e, saindo um pouco da rota, Strasbourg. São as cidades mais fascinantes!

Colmar e seus adornos fofos no Natal
Colmar e seus adornos fofos no Natal

Outros locais próximos para visitar

Caso queira parar em outros pontos fora da rota, o castelo Haut-Koeningsbourg e o antigo – e triste – campo de concentração de Struthof podem ser visitados. Dê uma olhada no tópico Alsácia/França aqui do blog, pois tem bastante conteúdo e diversas opções! Nesse texto está, inclusive, uma proposta de roteiros de 2, 4 ou 7 dias na região, bem como o detalhamento do que encontrará em cada cidade!

Cabe destacar que, por estar ao lado da Alemanha e da Suíça, você pode ainda esticar até Freiburg ou Basel, por exemplo.

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Roteiro de viagem na rota do vinho da Alsácia

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