
Eu tenho uma lista no celular em que guardo todas as cidades que algum dia me interessaram por uma foto, livro, guia, matéria, post ou comentário de amigos. A lista da Espanha é então bem grandinha e ela só cresce. Essa prática, contudo, não é pra me estressar achando que tenho de correr para ver logo tudo. É, simplesmente, para não esquecer dos lugares e poder recuperar os nomes quando estiver programando um passeio. Foi organizando férias de carro e verificando lugares de parada que Zaragoza, ou Saragoça, saiu desse arquivo, tornou-se realidade e, além disso, me conquistou!
Uma visão geral de Zaragoza
Zaragoza é a capital de uma província de Aragón, assim como Teruel e Huesca. Com cerca de 700 mil habitantes, é a 5a maior cidade da Espanha. Economicamente, é muito importante para o país porque é um pólo logístico de onde marcas como Zara, Massimo Dutti e Dell distribuem seus produtos. Sua mais importante data é, em outubro: a Festa de Pilar, em que são feitas oferendas de flores a essa santa. Vale destacar que um de seus marcos históricos foi o tratado assinado lá em 1529 para dividir as descobertas no Novo Mundo.

Situada no meio do caminho entre Madrid (300 km de distância) e Barcelona (300 km) e a 340 km de Valência, costuma ser então um ponto turístico de parada e pernoite. E foi esse o motivo de nossa escolha para ir à Zaragoza. Estávamos saindo de Valência, paramos em Teruel e Daroca, e passamos a noite em Zaragoza para, finalmente, no dia seguinte, chegar à Andorra.
Um pouco da história de Zaragoza
Por ter sido ocupada por ibéricos, romanos, muçulmanos e cristãos, Zaragoza é chamada de cidade das quatro culturas. Foi fundada por romanos, quando se chamava Caesaraugusta. Nesse período, foi um importante porto comercial que ligava Roma à Hispania. Foi ainda terra de visigodos e conquistada por árabes na Idade Média, quando chegou a ser a maior cidade da Espanha e recebeu construções lindas, como a Aljaferia, que marcam a beleza dela até hoje.

Em 1118 foi conquistada por católicos e se tornou parte do reinado de Aragón, por isso, lá foi construída uma importante basílica. No século XIX, a cidade foi invadida por Napoleão, tornando-a então palco de grandes batalhas que, somadas à Guerra de Independência, devastaram a região.
Uma figura das artes marcou também Zaragoza. Francisco Goya passou a infância e juventude lá, onde começou a pintar. Por mais que tenha vivido depois em Madrid e na Itália, Goya voltou à cidade natal para fazer diversos trabalhos, expostos hoje em museus e monumentos.

O que ver em Zaragoza
Basílica del Pilar
A grande atração é a Basílica del Pilar, onde está a padroeira da Espanha e que faz parte do Caminho de Santiago de Compostela. Dizem que Santiago pregou na cidade e que a Virgem Maria apareceu para ele em 2 de janeiro do ano 40. É por isso que por lá vemos muitos peregrinos que estão percorrendo o famoso trajeto.
A basílica, situada na praça principal de Zaragoza, é enorme, belíssima, repleta de pinturas de Goya e outros artistas renomados. De todas as que já vi nesse país, esta é uma das minhas Top5, ao lado da Catedral de Burgos, da Iglesia Parroquial de San Nicolas de Valência, da Catedral de Sevilha e da Mesquita-Catedral de Córdoba.
Rio Ebro
Por fora, imponente, destaca-se vista do Ebro, o rio com maior quantidade de água da Espanha e o segundo da Península Ibérica, perdendo a primeira posição para o Douro. É pela imagem da Basílica desse largo rio que caminhar à beira dele, olhando para a igreja, é um passeio incrível e nos proporciona belas visões e fotos.

Essa ponte linda da foto é a a Puente de Piedra, a mais antiga e charmosa de Zaragoza. Trata-se de uma construção gótica concluída em 1140 que fica no mesmo lugar onde estava uma ponte romana. Na metade dela está o Pretil de San Lázaro, um mirante que dá um belo ângulo para uma foto! Passando ela e indo mais distante da Basílica, existe então uma outra bem bacana para passear e fotografar a paisagem.
SEO, a mesquita-catedral
Ao lado da Pilar está a La SEO que, como a mesquita-catedral de Córdoba, era uma construção árabe convertida em prédio cristão. Além disso, foi edificada em cima do antigo fórum romano Caesaraugusta. Além de ser um prédio feito em cima de outros, o projeto estilo românico e reformas incorporaram estilos góticos e barroco, portanto, uma diferente miscelânea!

Principais museus
Ali pertinho está também o Museu Goya, localizado num belo palácio renascentista. O acervo conta com 500 telas, mas só algumas delas são do famoso pintor. Por uma questão de tempo e priorização, não o visitamos. Se tiver interesse em visitar outros museus de arte, em Zaragoza está o Museu Pablo Gargallo, dedicado a esse famoso escultor catalão, e o Museu de Zaragoza, com obras de diversos períodos e estilos, desde o gótico, renascentista, passando por Goya e incluindo telas dos séculos XIX e XX.

La Aljafería
O que mais amei na cidade foi a La Aljafería. Trata-se de um palácio do século XI, portanto, época dos mouros. Foi realizado para ser a residência dos reis árabes. A lado da mesquita-catedral de Córdoba e da Alhambra de Granada, está então entre as grandes construções de arquitetura islâmica da Espanha. Declarado Patrimônio da Humanidade, está aberto à visitação. Se tiver um tempinho a mais, pelo teor histórico, vale fazer a visita guiada ou pegar um audioguia.
Foi para La Aljafería que dedicamos mais tempo. Ficamos olhando cada detalhe, passeando pelos diferentes ambientes. Se você tiver que escolher uma única coisa para fazer em Zaragoza, eu diria, portanto, que é ir lá! Em segundo, seria então a Basílica del Pilar.

Ruínas romanas
Fundada pelos romanos, Zaragoza mantém ainda ruínas daquele período. Por isso, podemos ver um pedaço da muralha romana da praça principal da cidade. Além disso, podemos visitar o fórum, as termas públicas, o porto fluvial e o teatro romano, hoje museus. Se quiser vê-los, é possível comprar um combo que acessa a todos ou então adquirir tíquetes separadamente.
Todas essas atrações romanas estão no chamado casco viejo, ou seja, no centro histórico de Zaragoza. Lá está também o Torreón de la Zuda, o Mercado Central, a Santa Isabel de Portugal, a Plaza de San Felipe, o Tubo, a Plaza de Santa Marta, o Arco del Deán e a Torre de la Magdalena.
Como se deslocar na cidade
É possível fazer todas as visitas a pé. Nós deixamos o carro perto da La Aljafería, depois passamos por algumas construções de Cesaraugusta, andamos até a praça central, visitamos El Pilar, La SEO, andamos no rio e depois fomos à pé comer. Ufa! Pegamos o carro só depois de um almojanta, quando estávamos saindo da cidade.

Um importante elemento que você deve atentar a andar pelas ruas é a arte mudéjar, um estilo de artistas muçulmanos convertidos ao cristianismo. Uma delas é a própria La Aljafería, outras são a La Seo e a Torre de San Pablo. Então fique atento aos detalhes que pode encontrar edificações com as estrelas e desenhos típicos mudéjares!
O que comer em Zaragoza
A gastronomia local se baseia em produtos da terra, como verduras e hortaliças frescas, além de carne, peixe e cogumelos. O ternasco (cordeiro jovem assado) é uma das carnes mais tradicionais. Outro prato é o chilindrón, um molho de tomate, alho e pimento roxo que acompanha o cordeiro ou frango. Os huevos al salmorrejo também são bem tradicionais. São feitos numa panela de barro, onde se frita aspargos previamente cozidos e, quando eles fervem, jogam-se ovos.

Como tradição em muitos lugares, Zaragoza também é terra de tapeo, ou seja, de sair andando pelos bares e ir comendo diferentes tapas. O lugar mais turístico e famoso da cidade para comer é o bairro Tubo, região onde são servidas tapas. Ele é formado pelas estreitas ruas Mártires, Estébanes e Cuatro de Agosto.
Cada um dos estabelecimentos tem uma especialidade diferente e boa parte é monotemático. As pessoas ficam então indo de bar em bar, experimentando o que cada um deles tem de diferente. El Tubo está no centro, mais ou menos perto das principais atrações. Basta, portanto, uma caminhada.
Onde se hospedar em Zaragoza
Como nossa ideia era fazer de Zaragoza um ponto de parada e chegaríamos tarde, escolhemos então um hotel situado na estrada, fora da cidade. Ficamos no Tulip Inn Zaragoza Plaza Feria, a 10 km da Basílica del Pilar. No entorno não tem muita coisa, além de galpões, shoppings e um centro de convenções.

A localização, contudo, foi fácil para chegarmos e o preço estava muito muito bom. Pagamos apenas 38 euros a diária pelo Booking e era altíssima temporada de férias de verão. Um achado! O café foi 8 euros por pessoa. O hotel era novo e estava impecável. Achei melhor até do que o Golden Tulip (que era “Golden” e esse “Inn”, portanto, uma categoria teoricamente inferior) que ficamos no dia seguinte em Andorra. Mas essa é uma opção somente se for conveniente você estar com acesso fácil à estrada, pois o hotel é longe de tudo.
Como ir à Zaragoza
Como comentei, de carro, em três horas chega-se de Barcelona, Madrid ou Valência. Como optamos por não ter carro na Europa, sempre alugamos para viajar. O preço da locação na Espanha, na minha opinião, é o melhor custo-benefício da Europa. Os carros são muito bons e, se reservar com antecedência, você consegue diárias inferiores a 30 euros. Além disso, pode até pagar 80 euros por três dias.

Se quiser ir de trem, no site da Renfe você encontra várias opções de horário saindo de Barcelona ou Madrid, por exemplo. Ônibus também fazem esse trajeto. Cabe destacar que Zaragoza tem também aeroporto.
Como se deslocar em Zaragoza
Como a cidade costuma ser visitada como ponto de parada ou pernoite, possivelmente você irá de carro. Se for o caso, conto então que Zaragoza tem alguns estacionamentos subterrâneos que podem ser visualizados no Google Maps. Eles não são, contudo, baratos, mas são uma opção se você não estiver com hotel no Centro (nosso caso). As vagas de rua são bem reduzidas pro volume de veículos que param na região.
Melhor época para ir
O clima da Espanha é mais ameno que muitos países europeus mais ao Norte, como a França e a Alemanha. Contudo, em Zaragoza temos clima continental e estações bem marcadas. No inverno faz bastante frio e neva. Durante o verão, porém, pode chegar a marcar até 40 graus. Nós fomos no mês de agosto e estava bem quente, mas não insuportável. Nesse período é altíssima temporada na Europa, mas as pessoas vão para a praia e os preços não ficam tão ruins. De qualquer forma, viajar para o velho continente entre a segunda quinzena de setembro e o final de outubro é mais agradável e barato.
Sabe de uma coisa? Nós gostamos tanto de Zaragoza que paramos lá pra almoçar quando estávamos, alguns meses depois, voltando de Rioja para Valência! Mas dá vontade de voltar mais! Contam que na Semana Santa eles fazem uma festa que é considera as massas de turistas ainda não tomaram conta do espetáculo. Além disso, a Semana Santa de Zaragoza, com mais de 700 anos de história, acaba de receber um grande reconhecimento ao ser declarada Fiesta de Interés Turístico Internacional.
Continue acompanhando porque aqui tem sempre novidade! De lá fomos para… a Andorra! Confira como foi!